Uma ideia não é um original, que não é um livro
O Escritor Amador #6: Cuidado ao superestimar o valor das ideias
Muito provavelmente você já se deparou com alguém que, ao saber que você escreve, lhe contou, de forma entusiasmada, sobre alguma ideia para um livro, como se o simples fato de ter a ideia significasse que "bastaria" escrever para ter o livro pronto.
Se boas ideias bastassem, o mundo estaria tomado pelos mais brilhantes pintores, cineastas, autores, músicos, etc.
Que bom que não é assim. Seria um mundo um tanto monótono se todo mundo fosse genial. Na verdade, o critério de genialidade se estabelece basicamente a partir da comparação. Ou seja, o gênio só existe em comparação ao ordinário, ao mediano. Se todos fossem geniais, portanto, ninguém seria genial.
Conjecturas à parte, só quem nunca escreveu um livro acredita que ter uma "ideia incrível" é o suficiente para produzir uma obra. O que nos traz ao ponto deste texto: uma ideia, no caso da literatura, não é um original.
Existe um abismo tão grande entre as duas coisas que quando você chega do outro lado, se chegar, talvez nem lembre mais da ideia original ou, muito provavelmente, não lembre dela como ela era no início.
Talvez a própria expressão "ideia" seja um tanto imprecisa pra se referir a esse momento em que algum fragmento nos ocorre e que, por ventura, sentimos que pode, de alguma maneira, se transformar em uma história, que por sua vez pode se tornar um livro.
Uma ideia é algo muito formatado. Por exemplo, eu poderia ter tido ter a ideia de escrever sobre os dilemas dos imigrantes haitianos no Brasil cujo destino, na região Oeste de Santa Catarina, costuma ser as empresas da indústria frigorífica.
Esse é o contexto de meu romance Morte Sul Peste Oeste, embora não tenha sido assim que a primeira fagulha desse romance tenha primeiro me ocorrido.
Nesse estágio, foi mais um sentimento e muito menos uma ideia.
Um sentimento que veio de uma imagem que resumo assim: